terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Substância imita benefício de exercícios

Um novo estudo abre perspectiva de que os exercícios físicos possam ser trocados por uma pílula.

Em experimentos com camundongos, cientistas do Instituto do Câncer Dana-Farber, em Boston, descobriram que um tipo de um hormônio, produzido após a atividade física, era capaz de transformar o tecido adiposo. Em sua presença, células de gordura branca -responsável por armazenar energia- se convertem na chamada gordura marrom -que queima calorias para aquecer o corpo. 

A nova molécula, batizada de irisina, também existe em humanos. Num teste, os cientistas injetaram pequenas doses da substância em roedores sedentários, obesos e com sintomas de pré-diabetes. 

Após dez dias, os animais tiveram os níveis de glicose e insulina normalizados no sangue e até perderam peso. O experimento foi descrito na revista "Nature". 

"Com a irisina, nós conseguimos traduzir uma pequena parte do efeito dos exercícios têm sobre o organismo", disse à Folha Pontus Boström, autor do trabalho. Ele alerta que a irisina não vai deixar ninguém mais forte. "Existe uma vasta gama de efeitos que jamais poderemos substituir por uma única intervenção metabólica." 
FUTURO 
Mesmo exibindo cautela em relação ao potencial terapêutico do novo hormônio, os pesquisadores se mostram otimistas com a perspectiva de usá-lo em humanos em um futuro próximo. 
A molécula da irisina dos camundongos é quase idêntica à versão humana, o que significa que os mesmos benefícios observados nos roedores podem se mostrar em pessoas. "Esperamos ver efeitos colaterais muito pequenos", diz Boström. 
Ele e seus colegas do Dana-Farber, um centro de pesquisa associado à Universidade Harvard, estão agora tentando criar uma maneira de administrar a irisina a humanos. No estudo com roedores, foi usado um vírus para distribuir o hormônio no organismo, algo difícil de fazer com segurança. 
Para criar uma droga que possa ser usada em humanos, Boström e seus colegas estão tentando "colar" a irisina em moléculas de anticorpos, as proteínas de defesa do sistema imunológico, para só depois injetá-las no sangue. 
"Temos de fazer isso para que a droga não entre em degradação na corrente sanguínea", diz o cientista. 
Ainda não há perspectiva sobre quando os testes em humanos podem começar. 
NÃO É PREGUIÇA 
Para pesquisadores, mesmo que não seja adequado substituir exercícios por uma droga que tente emular seus efeitos, é possível encontrar uma brecha para aplicação. 
"Há muitos pacientes por aí que precisam de exercício mas, por diferentes razões, não podem fazer", diz Boström. "Um medicamento pode vir a ser uma opção para pessoas extremamente obesas, que têm dificuldade em se movimentar para fazer exercícios, ou para pessoas com alguns tipos de deficiência física." 


Fonte: Rafael Garcia - Folha de S.Paulo - 12/01/2012